De público, governadores e prefeitos saíram da reunião com a presidente Dilma Rousseff elogiando as propostas apresentadas.
Apesar de reivindicações como desonerações e subsídios para o transporte público terem sido remetidas para um grupo de trabalho, o discurso era de satisfação. Reservadamente, a avaliação foi diferente.
- A fotografia que a presidente Dilma levou só interessa a ela. Ficou com o bônus só para ela e distribuiu o bolo do ônus entre os 54 presentes - reclamou um dos governadores.
- Ela precisava dessa foto, e nós entendemos. Foi bom para ela. Mas tem que ver o que vai virar realidade - pontuou um prefeito.
O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), foi um dos poucos da oposição a se dizer satisfeito, destacando o anúncio de R$ 50 bilhões para investimento em mobilidade urbana:
- Talvez o mais importante seja a reforma política, que diz respeito à questão ética e moral - disse Perillo.
O oposicionista Arthur Virgílio (PSDB), de Manaus, criticou a proposta de Constituinte exclusiva:
- Essa Constituinte tem que ser olhada com o Congresso. À revelia dele, eu acho bastante complicada.
O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), também foi cauteloso:
- Neste momento, todos estão dispostos a fazer um esforço, e nós vamos participar. Agora, a nossa preocupação é poder desdobrar o conjunto de ações anunciado em efeitos concretos que possam tocar o dia a dia da população. Tem vários nós. O problema da saúde não é investimento, mas custeio.
Campos cobra pacto federativo
Presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), o prefeito de Porto Alegre, José Fortunatti (PDT), elogiou, mas cobrou a desoneração do óleo diesel e o uso de parcela da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para subsidiar o transporte público:
- Fiquei satisfeito porque é a primeira vez em que o Palácio (do Planalto) se coloca aberto para discutir. Antes, era rejeitado de pronto.
O discurso mais político foi o do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Ele alertou para o risco de a classe política ser enxovalhada. Também cobrou a concretização do pacto federativo.
- É preciso ter paciência, humildade e ficar de ouvidos bem abertos para entender o que a população está querendo com essas manifestações - disse Campos na reunião.
Segundo os presentes, Dilma tentou demonstrar tranquilidade, mas deixou clara sua preocupação com a gravidade da violência das manifestações.
- Se não tomarmos as medidas duras para coibir esses atos, pode haver consequências imprevisíveis - disse Dilma.
Quando o prefeito de Fortaleza, Roberto Claudio (PSB), reclamou da dificuldade de os municípios reduzirem as tarifas de ônibus, foi enquadrado com muita irritação por Dilma.
- Olha aqui, meu filho! Eu conheço muito bem todos esses números! - interrompeu a presidente, de dedo em riste na direção do prefeito.
No geral, os governadores e os prefeitos saíram decepcionados com o resultado concreto da reunião.
Não gostaram do formato do encontro, em que Dilma apareceu ao vivo fazendo os anúncios, escondendo os demais presentes.
Dizem que Dilma posou de estadista e "jogou a batata quente" no colo de governadores e prefeitos, já que quase nada do que foi anunciado depende do governo federal.
O Globo - Fernanda Krakovics, André de Souza, Paulo Celso Pereira e Maria Lima -
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