terça-feira, 2 de julho de 2013

Reforma muda eleição, mas não muda política

Dilma Rousseff, líderes da oposição e até de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil parecem estar com os ouvidos cheios de cera ou se fingindo de surdos. 

Nenhum deles dá sinais de ter percebido que a tal voz das ruas que ecoou por mais de 400 cidades pediu mudanças nas práticas políticas e, em especial, no funcionamento dos partidos. 

Coisa que não se resolve com a reforma negociada pelo governo, seja por plebiscito, referendo ou cartas psicografadas.

Ao que tudo indica, a consulta popular vai ser focada em mudanças no sistema de eleição para deputado estadual, federal e vereadores e no modelo de financiamento de campanhas. 

Basicamente, o que está em jogo é a técnica de contagem de votos (se a legenda vai ter mais peso que o candidato ou vice-versa) e a possibilidade de proibir que empresas façam doações. Mas cadê as medidas para aprimorar os partidos?

Passou bem longe do esboço da reforma e das votações frenéticas que tomaram conta do Congresso na semana passada, a reboque das manifestações. 

Para não dizer que todo mundo ficou omisso ao coro de críticas aos partidos, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, foi direto ao ponto. Segundo ele, é preciso diminuir o peso das siglas sobre a vida política do país.

“Temos sim que trazer o povo para a discussão e não continuarmos com essa tradição de conchavos de cúpula”, declarou o ministro, após encontro com Dilma. Em maio, durante palestra para universitários em Brasília, ele foi ainda mais claro. “Nós temos partidos de mentirinha.”

A única forma de atacar o problema é mudar as regras que regem o funcionamento partidário por dentro. Se isso não acontecer, de nada adianta ir às urnas para votar em um plebiscito. Afinal, qualquer sistema de votação vai ficar atrelado à escolha de nomes pelos caciques partidários.

Pode até haver uma simplificação, mas não haverá oxigenação da política. Exemplo: vá bater na porta de qualquer legenda e dizer que você quer ser candidato em 2014. Se você não for um puxador de votos como o Tiririca ou um milionário disposto a “colaborar”, é mais sensato disputar a vaga de síndico do seu prédio.

Um dos pensadores políticos mais interessantes da atualidade, o professor de Ética e Filosofia da Universidade de Campinas, Roberto Romano, diz que a melhor forma de entender um dirigente partidário é compará-lo a um cartola de futebol. 

Ambos controlam seus “clubes” de cabo a rabo, negociam com patrocinadores, contratam jogadores e dão ordens à comissão técnica. À torcida, ou melhor, ao eleitorado, cabe apenas torcer.

Se quiser opinar, o torcedor precisa ter grana e percorrer um longo caminho até chegar ao quadro diretivo do clube. A outra saída é montar uma torcida organizada. É mais ou menos o que acontece atualmente com as manifestações, na visão de Romano.

A disfunção dos partidos está no eixo da crise aguda de representatividade exposta pelos protestos. Dela derivam outros problemas graves, também não abarcados pela reforma em discussão, como a promiscuidade nas relações entre Poder Executivo e Legislativo. Quando um cacique negocia votos no Congresso em troca de cargos no governo é porque tem controle absoluto da sigla que comanda.

O mensalão já foi até julgado, mas o ambiente para novos escândalos continua o mesmo.

Blog Conexão Brasília

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