É cedo para saber se o que está havendo entre o Governo e sua base parlamentar tem relação direta e exclusiva com a MP dos Portos, matéria que envolve enormes interesses econômicos e naturalmente mobiliza os grupos setoriais organizados no Congresso, ou se expressa movimentos de águas mais profundas da política.
Os muitos e variados elementos que se misturam na montagem do cabo de guerra em torno da medida, realmente estratégica para o país, impedem uma visão mais nítida.
Mas uma coisa é certa: a fidelidade da base governista à presidente vem se encolhendo gradualmente e chegou agora a seu ponto mais crítico.
Mas outra coisa também é certa: ali, ninguém está querendo ir para a oposição. O mais provável é que a rebeldia combine a associação entre os interesses econômicos portuários (que acabam se conectando com o financiamento eleitoral) com a oportunidade de dar um grande susto no Planalto, forçando-o a mudar a natureza de seu relacionamento com os partidos aliados.
Com este sistema (presidencialista) lidaram todos os presidentes pós-transição, não porque gostem do toma-lá-dá-cá, mas porque não há outro caminho, embora alguns ministros do STF estranhem a necessidade do arranjo.
Alguns presidentes lideram com maior ou menor habilidade, especialmente Fernando Henrique e Lula.
Dilma é mais voluntariosa e muito mais centralizadora e isso está na origem de boa parte de seus conflitos com os aliados. Se pudesse, só nomeava técnicos e nem liberaria emendas.
Os parágrafos acima são da coluna de Tereza Cruvinel publicada no nesta última terça-feira.
Apontam para no cerne da questão que emperra e envergonha o país: o comércio de apoio existente no Congresso.
Mostra que a praguejada falta de habilidade de Dilma é, na verdade, rigidez e preferência pela companhia de técnicos e menos de políticos.
Ou seja, para o cidadão comum trata-se de uma virtude. Mas para os homens eleitos por esses cidadãos é defeito da presidente.
Já para o país, é uma chaga que dilacera a necessária probidade no trato com a coisa pública.
Vender apoio (votos) tendo cargos e liberação de emendas como moeda é uma prática condenável e nojenta.
Dilma, que resistiu a entrar no negócio, foi levada a fazê-lo. Inevitável. O balcão de apoios está instalado em legislativos de todos os níveis no país inteiro.
Josué Nogueira/Blog do Diário de Pernambuco
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