domingo, 9 de junho de 2013

Modernizar e excluir (um futebol só para a elite)

A reinauguração oficial do Maracanã, assim como a do novo Mineirão e a do estádio de Brasília, causou enorme mal-estar em parte da população brasileira. 

Com toda a razão, é reclamada a ausência de um personagem tão importante no esporte como os próprios jogadores: o torcedor comum. 

Nas novas “arenas”, esqueceram, ou melhor, deixaram de fora a turma do meio para baixo na tal da pirâmide social.

Assim como ocorre em outras áreas há muito tempo, como na cultura, na educação, na saúde e na segurança, o esporte agora também é segregado.

A Copa das Confederações, neste ano, e a Copa do Mundo, em 2014, serão lembradas como um divisor de águas no país. 

Ao contrário do esperado, os torneios não ficarão na memória por terem trazido grandes obras de infraestrutura, mas, sim, por representarem o marco da elitização do futebol brasileiro.

A crítica não reside na modernização dos velhos estádios – as reformas eram necessárias, e eu, particularmente, teria jogado o velho Mineirão no chão e erguido algo mais bonito e funcional. problema é o binômio qualidade e exclusão comum a qualquer melhoria promovida no Brasil. 

Aqui é assim: para a escola ser boa, tem de ser particular e cara; saúde de primeira, só com o melhor plano médico; quer segurança, vá para condomínios fechados; shows e peças de teatro com conforto e bons serviços não saem por menos de R$ 100 o ingresso.

A resposta do poder público e do setor privado para essas queixas é padronizada. “Na Europa é assim”, dizem. Mas na Europa, durante muito tempo e ainda em alguns lugares em tempos de crise, o chamado Estado de bem-estar social garantiu ganhos à população com serviços básicos gratuitos e universais. 

Por aqui, se o pão já está difícil, o circo, no mínimo, deveria ser mais barato; R$ 120, R$ 160, R$ 220 é muito para o trabalhador, com base em um salário mínimo de R$ 678.

O torcedor desdentado, o fantasiado, o irreverente, enfim, aquele cujo prazer era vingar-se das injustiças da vida durante 90 minutos numa tarde de domingo, está barrado nos novos estádios do Brasil. 

De alguma forma, o futebol ainda representava um bolsão em que as desigualdades sociais jogadas para debaixo do tapete em outros setores davam as caras e mostravam-se muito mais simples de resolver.

Por certo, o ideal não é reduzirmos os preços dos ingressos apenas para essas figuras voltarem aos campos e serem filmadas como prova da convivência harmônica entre pobres e ricos. 

Não, o correto é diminuir o abismo entre as classes sociais e dar condição aos de baixo de ter acesso a bens comuns a outros segmentos da população. Mas, enquanto essa revolução social não ocorrer, excluir mais ainda o povo de um lazer tão prazeroso quanto ir a um estádio de futebol é quase um crime. 

Murilo Rocha/O Tempo

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