sexta-feira, 21 de junho de 2013

O povo não sairá das ruas, isso é o que os governantes e os políticos ultrapassados estão querendo.

Para começo de conversa, constatar, avaliar, colocar diante de todos, para que também todos examinem, opinem, se manifestem, como estão fazendo os que tomaram as ruas para protestar e reivindicar sobre os mais diversos assuntos.

Os primeiros que ganharam as ruas tinham escrito nos cartazes que não admitiam o aumento nas tarifas de transporte público.

Mas isso já estava longe, mas tão longe ou distantes, que não se vê, não se ouve, quase nem dá para lembrar. Não se pode esquecer que apesar de parte mínimo das reivindicações, foi logo atendida, as passagens já voltaram aos preços de antes, esmagando pelo caminho o governados e prefeito de São Paulo, governador e prefeito do Rio. Eram os mais poderosos e, consequentemente, os mais intransigentes.

A REVOLTA DOS ANJOS, NAS RUAS,
DERROTANDO OS ENCASTELADOS GOVERNANTES

Os primeiros derrotados e massacrados foram Alckmin, governador, e Haddad, prefeito. Adversários quase inimigos, os partidos opostos e sem diálogo (igualmente sem projeto, sem programa e sem planejamento) se juntaram surpreendentemente nas decisões apressadas de aumentarem as tarifas de todos os transportes, sem exceção.

Surgiram os primeiros e tímidos protestos, embarcaram (juntos) para Paris, declararam: “Não existe conversa, os aumentos são irrevogáveis”. E foram jantar confortavelmente na bela primavera de Paris, conforme assinalei aqui, na hora. 

Só que não imaginavam que a primavera do calendário seria substituída imediatamente pela PRIMAVERA POLÍTICA, como está acontecendo em muitos lugares.

Não contavam, de jeito algum, com esses jovens que foram tomando as ruas, foram crescendo cada vez mais, estão há mais de uma semana, e não podem desistir. O governador de São Paulo voltou, defendeu idiotamente a violência, deu entrevista entre dois coronéis, afirmou: “A Polícia Militar cumpriu o seu dever”.

Virou para os dois lados, recebeu olhares de aprovação, pensou que era a vitória. O prefeito, intelectual, professor e acadêmico, foi pelo mesmo caminho, só não aplaudiu a polícia e a repressão, mas também não condenou.

A REVIRAVOLTA, EM DIAS OU HORAS

Só que quando puderam perceber alguma coisa, viram que precisavam agir, ou o movimento agiria contra eles. Imediatamente, num tempo rapidíssimo, as tarifas aumentadas, que não poderiam ser revogadas, caíram aos preços anteriores. 

Mais primário ou comprometido, Alckmin ainda elogiou “os empresários” que dominam todo o transporte, que chamam de “serviço” de oitava categoria e na uma vergonha, atentado criminoso e selvagem aos milhões de cidadãos que precisam chegar ao trabalho, voltar para casa, ir a qualquer lugar.

DE SÃO PAULO PARA O RIO

O governador e o prefeito, tão irresponsáveis quanto os de São Paulo, ficaram também impassíveis diante do que acontecia. Sergio Cabral e Eduardo Paes sabiam e sabem que aqui é muito mais fácil, todo o movimento dos ônibus é controlado, comandado e coordenado pela Fetranspor.

O resto do transporte, ainda minoritário, é dominado pelas concessionárias, sem fiscalização, que só querem lucro (vá lá, é do sistema), mas não ligam nem se incomodam, tratam o cliente com o maior desprezo e desinteresse.

Se o “serviço” tivesse um mínimo de qualidade, se existisse realmente, não teriam acontecido os protestos. Muitos dos ignorados passageiros afirmaram diante das televisões: “Se houvesse um serviço de qualidade, com ônibus saindo e chegando na hora certa, se pudéssemos entrar e sair dos transportes, se não fôssemos obrigados a viajar esmagados, poderíamos até aceitar o aumento”. Era o libelo coletivo contra esses “proprietários” de coletivos.

AGORA, O QUE ACONTECERÁ?

Estão tentando desmobilizar os manifestantes, sugerindo: “Foram vitoriosos, as passagens reduzidas, agora podem voltar para casa”. Não precisam, não querem, não podem abandonar a luta marcada para 15 “rounds”, apenas porque atingiram o adversário ligeiramente, nem no queixo foi. Nesses 15 “rounds”, é preciso dominar o ringue, examinar as conquistas, e aí sim, aguardar o que será feito de permanente.

CONSTITUINTE INVIÁVEL

Desculpas aos muitos leitores e comentaristas que sugerem que a convocação de uma Constituinte seria a solução. Pelo contrário, paralisariam tudo, caminharíamos para o retrocesso e, pior ainda, a estagnação. 

Se essa sugerida Constituinte pudesse estar em vigor em dias ou algumas semanas, teria até o meu apoio entusiasmado.

Mas quem convocaria essa Constituinte? Levaria pelo menos um ano para aceitarem a idéia, marcarem a eleição, estabelecerem um tema de MUDANÇAS OBRIGATÓRIOS, com aqueles 10 itens que relacionei aqui, e outros 3 acrescentados por leitores.

Outro quesito importantíssimo: os atuais deputados e senadores poderiam se candidatar? Se não pudessem, chamariam de discriminação. Se pudessem (nem digo puderem, pois não haverá) participar, então seria a glorificação do absurdo. Se não mudaram nada em dezenas de anos, se não fizeram reforma política, eleitoral e partidária (entre outras), porque iriam fazer só por que tem o nome de Constituinte?

PS – Para mostrar a dificuldade da situação, a complexidade dos problemas, os obstáculos para implantar as reformas mais urgentes, a conclusão: seria necessária uma voz coletiva, como a Constituinte. Contradição do repórter? Não, apenas isenção e sinceridade no exame dos problemas.

PS2 – Outra duplicidade irreal, mas altamente visível: enquanto o povo estiver nas ruas, os infiltrados, baderneiros e tumultuadores encomendados também estarão. E isso não pode demorar eternamente.

PS3 – Mas se o povo sair das ruas, será tido como derrotado, que deixou as ruas por incapacidade, isso é o que dirão. Contradições e controvérsias que precisam de solução.

DILMA-JOANA D’ARC

Pela vestimenta e pelo perfil cada vez mais roliço, já foi comparada à Dona Merkel por este repórter. Agora ganha denominação e identificação nova, baseada nas suas próprias afirmações.

Comentando na televisão (e não faz outra coisa) as intenções dos participantes do Movimento Passe Livre, afirmou: “Meu governo ouve vozes pela mudança”. É Joana D’Arc, estúpido. Dona Dilma ouve vozes, os que protestam ganham aplausos pelo que houve nas ruas.

A PEC 37 DERROTADA

Os que pretendiam retirar os poderes de investigação do Ministério Público, tiveram que aceitar a derrota. Quando começou essa tentativa, deixei claro, aqui, que “se tratava de retaliação, por causa das denúncias contra acusados do mensalão”.

Um dos pontos mais positivos na Constituição de 1988, foi a concessão desses poderes ao Ministério Público. E eles cumpriram rigorosamente, sem arrogância e sem exagero, os poderes constitucionais que receberam. 

Começaram a incomodar, veio a campanha contra, que quase foi vitoriosa. O que não aconteceu.

A PERMANÊNCIA DOS PODERES DO
MP, GRANDE E NOTÁVEL VITÓRIA

Excetuadas as medidas de redução das tarifas de ônibus, três, metrô e de todos os outros meios de transporte público, a grande vitória do povo nas ruas foi o arquivamento dessa odiosa e vingativa PEC 37. Que pretendia praticamente acabar com o MP e suas investigações importantes, abrangentes e reparadoras.

Helio Fernandes/Tribuna da Imprensa

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