O presidente do Senado, Renan Calheiros, tem toda a razão ao recusar-se a votar a Medida Provisória da Energia: onde já se viu dar aos senadores apenas um dia para ler, estudar, debater e votar uma resolução tão importante?
O presidente do Senado, Renan Calheiros, não tem razão nenhuma para não votar a MP da Energia. Um dia de prazo é a conta dele; na conta dos cidadãos, entre 28 de maio, quando a medida foi aprovada na Câmara, e 3 de junho, quando caduca, o prazo é de pelo menos cinco dias. Dava para ler, discutir e votar.
O problema é que, entre os interesses do cidadão e o feriado, Suas Excelências preferem o feriado.
Aí vem a sexta, quando para eles o trabalho não é habitual. E há o fim de semana. Se um doente tiver problemas num feriado, seu médico irá atendê-lo. Se o eleitor precisa de algo num dia útil, mas que fique entre um feriado e o fim de semana, pode tirar o cavalinho da chuva. Trabalhar cansa.
Na quarta, 29, bateram o ponto 57 nobres senadores. Mas no plenário havia quatro. Assim não dá para examinar medida provisória nenhuma, seja qual for o prazo disponível (na Câmara, a situação é parecida: 333 senhores deputados bateram o ponto e havia quatro no plenário).
Estavam lá para bater ponto e ganhar o deles; mas cuidar dos interesses dos eleitores não rende nada. É outra coisa.
Em resumo, ninguém tem razão. O Governo articulou mal; a Câmara demorou para votar (enquanto cada deputado estudava o melhor voto, para ele); o Senado tinha tempo para decidir, mas preferiu descansar.
Ninguém é de ferro.
Ganhando junto
O Tribunal de Contas da União apurou que 3.390 servidores federais ganham salários superiores ao teto do funcionalismo. Destes, 90% estão na Câmara e no Senado. O teto é de R$ 28 mil mensais, salário de ministro do Supremo.
Total das despesas só com a parte que supera o teto: R$ 107 milhões por ano. E, como se vê na notícia anterior, o trabalho destes cavalheiros nem é tão cansativo assim.
Farra geral
No tumulto do Bolsa-Família, a Caixa descobriu que 692 mil famílias têm dois cadastros e recebem dois auxílios (talvez seja por isso que, como disseram à TV, haja quem compre jeans de R$ 300 para a filha e pingue mensalmente algum na poupança).
Custo do pagamento ilegal? R$ 100 milhões por mês.
Eu, hem?
A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, responsável pelo Bolsa-Família, preferiu esquecer a confusão e manter suas férias na Disney.
Bobagem: se é para conviver com ratos, João Bafodeonça, um Pateta e os Irmãos Metralha, e se divertir com nossa cara de patos, melhor seria ter ficado por aqui.
Vai e volta
A ministra Tereza Campello volta amanhã. É essencial que esteja no país para acompanhar o rigoroso inquérito sobre o que ocorreu no Bolsa-Família.
A propósito, como já informou o ótimo escritor Luiz Fernando Veríssimo, rigoroso inquérito não é a mesma coisa que inquérito rigoroso: é exatamente o contrário.
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação.
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