domingo, 25 de agosto de 2013

Agosto

Getúlio Vargas: o suicídio como arma política

Decisão dramática pelo suicídio
revelou-se extraordinária para salvar
a biografia de Vargas
 (Reprodução/Internet)
Em 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas optou por tirar a própria vida

O dia mal havia começado na manhã de 24 de agosto de 1954, quando Getúlio Vargas decidiu tirar a própria vida. 

Esse gesto foi o maior golpe de marketing político da história brasileira. Até aquela manhã, o ex-ditador estava acuado. 

Acusado de proteger ladrões, e com seu irmão e o chefe da guarda pessoal envolvidos na tentativa de assassinato do principal líder da oposição a seu governo, a situação política de Getúlio Vargas era insustentável.

A opinião pública acompanhara os detalhes das investigações do atentado da Rua Toneleros e estava chocada com as revelações. O coronel João Adil de Oliveira, que ficara encarregado do Inquérito Policial-Militar, havia declarado, a 19 de agosto, que o atentado contra Lacerda fora planejado dentro do Palácio do Catete. 

O vice-presidente e os militares pressionavam Getúlio para que renunciasse. Se deixasse a Presidência, o ex-ditador teria um destino muito parecido ao reservado a Fernando Collor: teria respondido a vários processos e correria o risco de ser condenado, junto com parentes e pessoas de sua estrita confiança. Teria tanto apoio da opinião pública quanto o ex-presidente Collor obteve durante o processo do impeachment.

A decisão dramática pelo suicídio revelou-se extraordinária para salvar a biografia do Tirano do Catete (Vargas foi o único ditador a habitar aquele palácio presidencial). 

Como num passe de mágica, poucas horas após o anúncio da sua morte, milhares de pessoas foram para as ruas da capital, inconformadas com os acontecimentos. 

Exceto para Gregório Fortunato e seus capangas, os demais acusados da entourage getulista saíram ilesos das acusações. Em 30 dias o inquérito foi encerrado e nada apurado em relação aos parentes do tirano. Os ladrões que o circundavam, segundo acusava Carlos Lacerda, também não tiveram os seus atos investigados.

O grande jurista e advogado Evandro Lins e Silva – que esteve à frente da defesa de alguns acusados do atentado da Rua Toneleros – declarou haver encontrado a melhor explicação para o suicídio de Vargas numa revista francesa, sob o título O suicídio como arma política. 

Nessa reportagem, segundo Lins e Silva, o autor mostrava que, com seu gesto, Getúlio Vargas tinha conseguido dominar, paralisar, desmoralizar a conspiração que pretendia alijá-lo do poder. 

Na verdade, isso aconteceu. Quem viveu aquele período e assistiu aos acontecimentos durante o dia, no Rio de Janeiro, tem a lembrança de que poucas vezes multidão igual saiu às ruas em apoio ao presidente.

Este é um exemplo perfeito de manipulação da opinião pública post mortem. Até a manhã do dia 24 de agosto Getúlio Vargas era um ex-ditador, convertido em demagogo, à frente de um governo acusado de corrupção e rodeado por bandidos que urdiram um atentado contra o principal político de oposição. Com o seu derradeiro gesto, tudo isso foi apagado e seu nome emprestado a ruas, avenidas, praças, cidades e instituições. 

Ergueram-se monumentos e bustos. E os que desejavam ver cumprida a lei e punidos os culpados, terminaram com a pecha de conspiradores aos olhos da maioria das pessoas. Nunca um suicídio mudara tanto os rumos da política brasileira, nem a biografia de um personagem.

Jânio Quadros, o homem da vassoura

Jânio Quadro durante campanha eleitoral
em 1960 (Reprodução/Internet
)
Em 25 de agosto de 1961 o presidente brasileiro Jânio Quadros renuncia ao cargo sete meses após assumir

O político e ex-presidente do Brasil, Jânio da Silva Quadros, nasceu em Campo Grande — então estado de Mato Grosso e atual capital do Mato Grosso do Sul — no dia 25 de janeiro de 1917.

Criado na capital paulista, no bairro da Vila Maria, Jânio ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo em 1935. Concorreu a vereador nas eleições de 1947, mas não foi eleito. 

Com a suspensão do registro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a cassação dos mandatos de seus parlamentares, Jânio ingressou na Câmara como suplente em 1948. Em outubro de 1950, foi eleito deputado estadual.

Em 1953, na primeira campanha eleitoral para a prefeitura de São Paulo desde a Revolução de 1930, Jânio venceu por larga margem. Em 1954, abdicou ao cargo para candidatar-se a governador do estado de São Paulo. No ano seguinte, tomou posse. Seu mandato ficou famoso pelo combate à corrupção e moralização do serviço público.

Em 1959, um grupo reuniu-se na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no Rio de Janeiro e fundou o Movimento Popular Jânio Quadros (MPJQ), lançando a candidatura do político à presidência da República. Em três de outubro de 1960, Jânio venceu as eleições e João Goulart foi eleito vice-presidente.

Jânio desenvolveu uma política interna considerada conservadora e aceita pelos Estados Unidos. Já no plano externo, exerceu uma política independente e aberta a relações com todos os países do mundo, o que provocou protestos de vários setores que o apoiavam. 

Recebeu no palácio do Planalto a primeira missão comercial da República Popular da China, enviada ao Brasil e a missão soviética de boa vontade, também para incrementar o intercâmbio comercial entre os dois países.

No encontro com Ernesto Che Guevara, ex-guerrilheiro e ministro da Economia de Cuba, Jânio pediu a libertação de 20 padres presos em Cuba e obteve êxito. Em contrapartida, condecorou Che com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, o que repercutiu negativamente entre os mais conservadores. 

Estes fatos levaram a uma grave crise política, mas não se sabe ao certo o motivo que levou o presidente a renunciar.

Em 1962, Jânio disputou o governo paulista, mas não foi eleito. Com a eclosão do golpe militar, que derrubou o governo Goulart em 1964, Jânio teve seus direitos políticos cassados. 

Em 1982, concorreu ao governo de São Paulo e sofreu outra derrota. Em 1985 lançou-se candidato à prefeitura de São Paulo pelo PTB e foi eleito.

Em 1990, Jânio foi abalado pela morte de sua esposa, Eloá do Vale, com quem teve dois filhos. Seu estado de saúde agravou-se, e em 16 de fevereiro de 1992, morreu em São Paulo. 

Encerrou-se assim uma carreira política sem paralelo na história do Brasil: um homem que em menos de quinze anos passou de vereador a Presidente da República.

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