Nos últimos 10 anos pudemos assistir a reinvenção do Brasil. Se ontem éramos oprimidos pelo grande capital internacional, hoje – segundo os detentores da narrativa dominante – somos soberanos. Com isso, deixamos de lado dados incômodos e passamos a viver no mundo da fantasia narrativa.
Todos sabemos que o desemprego está em um dos seus patamares mais baixos, segundo o IBGE. O que pouca gente sabe é que o método de cálculo foi alterado, e, se usássemos o padrão da U.E. nosso desemprego ultrapassaria os 20% (desde 2003 diga-se).
Todos sabemos que o grande governo popular pagou nossa dívida com o F.M.I.. O que pouca gente sabe é que nossa dívida externa aumentou em quase US$ 100 bilhões nos últimos 10 anos, sendo que a dívida pública federal ultrapassou R$ 2 trilhões!
A tudo isso soma-se o fato de o Brasil ter despencado em rankings internacionais de educação, infraestrutura e qualidade de vida.
A tudo isso soma-se o fato de o Brasil ter despencado em rankings internacionais de educação, infraestrutura e qualidade de vida.
Nenhuma dessas omissões é gratuita. Essa estratégia tem a intenção de calar a voz do opositor, negando-lhe participação na narrativa da história, afinal, quem é que vai fechar os olhos para os INEGÁVEIS avanços da última década? Inegáveis? É aí que está a importância da saga dos “Guias politicamente incorretos da história” de Leandro Narloch.
Quando Narloch lançou o “Guia politicamente incorreto da história do Brasil” conseguiu irritar muita gente. Resgatou, por exemplo, o grande sociopata Luis Carlos Prestes, que com sua “Coluna Prestes” deixou rastros de destruição, estupros e assaltos por onde passou. Além do assassinato ordenado por ele de uma garota de 16 anos.
Zumbi? Tinha escravos, capatazes e mandava assassinar quem não aguentasse viver no Quilombo dos Palmares.
Luta armada? Nenhum grupo guerrilheiro tinha o objetivo de lutar pela democracia. E em pelo menos 14 organizações era explícito, em seus estatutos, o desejo de um regime ditatorial de partido único.
Com o “Guia politicamente incorreto da história da América Latina” o embaraço ficou com a revelação de que o caudilho Perón era pedófilo, logo ele, o avô do kirchnerismo. Foi divertido descobrir que o Brasil também possuía os seus peronistas.
Todas as passagens dos livros são referenciadas com fontes e contexto histórico. Diminuir a importância do livro pelo fato de o autor não ser historiador tem nome: canalhice.
Guia politicamente incorreto da história do mundo
De Galileu a Gandhi, da Revolução Industrial a Maio de 68, o autor elege bem os mitos influentes contra os quais lutará. As narrativas contra as quais Narloch se insurge são bichos-papões consolidados que engolem os alunos brasileiros.
Nessa insurgência opera uma lógica elementar, que passo-a-passo encadeia elementos no tempo-espaço e demonstra a conexão causal dos fatos narrados, demolindo os Frankensteins históricos.
Ao listar bizarrices dos regimes comunistas, o livro encontra uma de suas boas vocações, a de ser amplificador do terror que milhões de seres-humanos sofreram na mão dos tutores da humanidade. Sem precisar argumentar, os fatos são de uma claridade atroz.
O livro expõe casos de ditaduras africanas sem deixar de lado seu contexto anterior de colonialismo e escravidão, mas deixa de dizer que muito colonialismo e muita escravidão ocorreu sem a participação dos europeus, lista absurdos de ditadores reais e mostra que a destruição da África também possui a digital de líderes africanos.
Justapõe as expectativas de vida antes e depois da Revolução Industrial, constata o aumento, e pra quem sabe ler números, demonstra que a qualidade veio junto com a quantidade, conclui acertadamente que a mecanização foi a melhor coisa que poderia ter acontecido aos pobres.
Lista o número de pessoas a quem a comida com fitofarmacêuticos alimenta hoje, para mostrar quanta gente estaria faminta caso o mundo ainda dependesse da agricultura orgânica familiar. Sem contar a quantidade de árvores salvas devido a grande produtividade por hectare comparado.
Arrola fundamentais coincidências na linguagem sobre o Estado nos textos nazistas e comunistas para expor semelhanças entre os dois.
E assim por diante, em operações resultantes de um penoso trabalho de pesquisa, o livro termina sendo um incômodo para quem se propõe a combatê-lo.
Como sempre ocorre quando o epíteto “politicamente incorreto” é usado, a reação dos “politicamente corretos” confunde apreço histórico com militância sem visão amparada na luta de classes. O livro apresenta versões marginais da história, que explícita os interesses dos poderosos marxistas culturais.
Daí se conclua que o livro deva ser motivo de interesse. Pelo talento narrativo do autor, deve incomodar um tipo bem conhecido nosso, o do intelectual comentarista de portais da internet.
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