quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Dirceu acusa elite, mas esquece que foi Lula quem o demitiu

Em pronunciamento na Fundação Perseu Abramo, em São Paulo, transmitido pela Internet – objeto de reportagem de Tatiana Farah, O Globo, e da Folha de São Paulo, não assinada – o ex-ministro José Dirceu, em relação à pena em que foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal, afirmou ser o principal alvo do ódio e da inveja de setores da elite do país. 

Estes setores – acrescentou – não se conformam com a eleição do presidente Lula, com o papel que ele tem no mundo. Não se conformam com a vitória do PT e com a eleição da presidente Dilma Rousseff. 

A afirmação é contraditória, pois ao mesmo tempo em que vagamente se apresenta como vítima da elite, esquece que foi o ex-presidente Lula quem o demitiu da chefia da Casa Civil. 

Logo, indiretamente, está culpando Luís Inácio Lula da Silva de ter feito o jogo da elite (cujo conservadorismo ele ataca) pela situação em que se encontra. 

Omite que foi o escândalo do mensalão que o fez ter o mandato de deputado cassado pela maioria absoluta da Câmara Federal. As reportagens de O Globo e da FSP foram publicadas nas edições de 11 de setembro. 

A cassação do mandato de Jose Dirceu ocorreu em 2005. O ex-ministro, de acordo com as matérias publicadas, sustenta que, condenado pela Corte Suprema, pretende recorrer à OEA e às Cortes Internacionais de Direitos. 

Considera-se um perseguido político. Mas perseguido por quem? Ou por quais entidades e órgãos públicos? Trata-se de extremo absurdo atribuir ao STF o papel de seu perseguidor. “Eu vou continuar me defendendo, defendendo o PT e nossos governos”. Dirceu, assim falando, inclui-se como o membro da administração federal.

Esquece que ele, na verdade, é o derrotado maior do episódio do mensalão. Era, de fato, o primeiro ministro do governo Lula, que o chamava de capitão do time. Mas, mesmo assim, foi o autor do decreto que o demitiu do cargo. 

Logo, motivos houve para levar o presidente da República à tal decisão. Pensar o contrário, como procede Dirceu, corresponde a acusar Lula da prática de um ato injusto, além de ilegítimo, consequência da pressão da elite.

LULA NEM SE MEXEU

Não faz sentido. Além de exonerá-lo, Lula não moveu qualquer esforço junto à base parlamentar que o apoiava para evitar que seu mandato fosse cassado pelo voto da maioria absoluta daquela Casa do Congresso. 

Mas eu disse, sem entrar no mérito do processo criminal a que responde, no plano estritamente político, Dirceu foi o grande derrotado pelo mensalão. Pois em consequência do mensalão e da demissão, a ministra Dilma Rousseff foi deslocada da pasta de Minas e Energia para a chefia da Casa Civil. 

E foi a nomeação para a chefia da Casa Civil que levou Lula a lançá-la como candidata, não só do PT, mas também do PMDB, à presidência da República em 2010. 

O apoio de Lula, claro, foi decisivo para a vitória de Dilma nas urnas. Não fosse o mensalão, claro, seria José Dirceu, e não Rousseff, o candidato de Lula à sua própria sucessão.

Tivesse isso se materializado, hoje, sem dúvida, seria Dirceu, e não Dilma, o presidente da república. Dirceu estaria em plena campanha pela reeleição. 

Sua derrota, à luz da história, está sendo enorme. Em vez de se encontrar presidindo o país, situa-se em árdua luta, que pode deslocar para o campo internacional, no sentido de evitar sua prisão. 

Em vez do Planalto poderá até ser privado da liberdade. Dirceu foi o construtor de sua própria contradição.

Pedro do Coutto

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