sábado, 23 de novembro de 2013

O SILÊNCIO DOS COVARDES QUE DIZEM ESTAR JUNTOS

Nunca cheguei a ser amiga de Zé Dirceu e José Genoino. Apesar de marcantes divergências, sempre respeitei os dois primeiros e posso dizer que fomos companheiros políticos. As lembranças são muitas. Guardo algumas. Em 1979, um Genoino recém-saído da prisão, nas asas da Anistia, valeu-se do meu velho Fiat 147 para ir a Juiz de Fora praticar o que de melhor sabia fazer: agitação política. 
Foi ele, também, quem vi, em 1987, estudando minuciosamente os anais das Constituintes de 1934 e 1946. Era, sem dúvida, o melhor deputado constituinte que a esquerda elegera em 1986.

Com ele e o metalúrgico Djalma Bom, defendi o nome de Fernando Gabeira para vice-presidente, na chapa de Lula, em 1989. Perdemos, mas não fizemos feio, num auditório ainda dominado pelos que tinham todo tipo de preconceito. 
Em 1991, eu, deputada federal de primeira viagem, fui por ele alertada: “Não faça emendas ao Orçamento da União, pois servirão para alguém ‘cavalgá-las’ e delas fazer uso em tenebrosas transações”.

Com Zé Dirceu, foi diferente: no início do PT, em 1980, cheguei a hospedá-lo em minha casa de Belo Horizonte, época em que ele não tinha onde ficar.
 Certa vez, sabendo de seu aniversário, fiz questão de arranjar-lhe uma festa com direito a bolo e velas. Minha irmã também chegou a oferecer-lhe teto, quando ia ao Rio de Janeiro.

QUALQUER QUE SEJA A VERDADE

Não teria motivos para exaltar-lhes o passado de dignidade. Faço-o porque não me conformo com o fato de Lula e Dilma se calarem diante de suas prisões. E por quê? Porque, qualquer que seja a verdade, os dois, juntamente com Delúbio, Marcos Valério e companhia, todos eles, participaram do esquema necessário a que qualquer, repito, qualquer partido consiga ganhar e manter o mando de campo no país.

Não concordo com o que fizeram, mas não me calo. Não me calo porque dia virá em que ainda emergirão em toda a sua extensão (e as vozes das ruas assim exigirão), os mensalões do PSDB, do DEM e até de outros, muitos outros, antes que desapareça essa maneira de pagar o estratosférico preço das campanhas políticas. 
E ninguém vai conseguir mudar tudo isso se não mudarem todas as instituições brasileiras. Estou certa disso e sobre isso já cansei de escrever.

Tive pena ao vê-los, antigos companheiros, sendo levados como presos comuns para, como diria o atual ministro da Justiça, as masmorras da vida prisional brasileira. Não tive alegria com isso.

Mas sou tomada pela discreta satisfação de tentar acreditar que neste país, doravante, não serão apenas os rebotalhos de toda espécie os que serão presos. 
Um dia, se Deus quiser, também os e as presidentes da República que se elegem, como num passe de mágica, gastando mais de R$ 150 milhões terão de se explicar. Como pagar essa conta se somos todos sabedores de que não há almoço grátis?

Por ora, o silêncio dos que contribuem e o dos que fingem não terem se beneficiado é a obra mais acabada de exaltação da covardia.

Sandra Starling

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