quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Restos mortais de Jango chegam a Brasília com honras militares

Os restos mortais do ex-presidente da República João Goulart chegaram a Brasília no fim da manhã desta quinta-feira (14). O corpo de Jango, como era conhecido, foi recebido com honras militares fúnebres concedidas a chefes de Estado, às quais não teve direito quando morreu. Deposto pelo golpe militar de 1964, Jango morreu no exílio, na Argentina, em 1976.

A cerimônia que recebeu o caixão com os restos mortais de Jango durou cerca de 25 minutos e teve a participação da presidente Dilma Rousseff e dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Collor de Mello e José Sarney. Fernando Henrique Cardoso não compareceu, pois se recupera de uma diverticulite. Também estavam presentes ministros de Estado.

Quando chegou à base aérea, local do evento, o caixão com o corpo de Jango foi recebido com aplausos. O Hino Nacional foi executado e os militares fizeram as honras de estado.

Ao lado de Dilma estava sentada a viúva de João Goulart, Maria Tereza Goulart.. Ela e a presidente colocaram uma coroa de flores na urna que trazia os restos mortais de Jango.

A viúva do ex-presidente chorou algumas vezes ao longo do evento. Uma dessas vezes foi quando recebeu a bandeira do Brasil que cobria o caixão de Jango.

Após a cerimônia, Maria Tereza disse que Jango "merecia" ter a causa da morte investigada.

"Ele não teve esse momento de fazer uma autópsia. Eu acho que poderia ter feito até, mas ninguém foi capaz de fazer [...] Eu acho que é um ato de coragem esse reconhecimento, também pelo presidente que ele foi. Eu acho que ele merecia", afirmou.

A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, afirmou que o evento desta quinta é uma "recuperação" da história do país.

"Esse momento tem uma grande importância para o Brasil e a presidente Dilma determinou que esse resgate histórico significasse a valorização da democracia. Estamos fazendo justiça, recuperando a nossa própria história", disse.

A ministra ressaltou ainda que o evento foi uma homenagem "a um presidente constitucionalmente estabelecido e que foi deposto em uma circunstância de golpe". "Para que nunca mais aconteça é que hoje nós tivemos aqui forcas civis e militares para essa homenagem ao presidente João Goulart", completou.

O corpo de Jango começou a ser exumado nesta quarta (13), em São Borja (RS), para que seja submetido a perícia da Polícia Federal, em Brasília. O objetivo é identificar a causa da morte do ex-presidente, deposto pelo golpe militar.

Em 1964, o ambiente político se radicalizou, com Jango prometendo fazer as chamadas reformas de base na lei ou na marra, com a ajuda de sindicatos e de membros das forças armadas. Os militares então, com apoio de setores da sociedade, derrubaram o presidente por temerem que Jango desse um golpe de esquerda, coisa que seus partidários negam até hoje. Os militares prometiam entregar logo o poder aos civis, mas o país viveu uma ditadura militar que durou 21 anos, terminando em 1985.

Pela manhã, em sua conta no Twitter, a presidente Dilma comentou a recepção aos restos mortais de Jango. "Este é um gesto do Estado brasileiro para homenagear o ex-presidente João Goulart e sua memória. Essa cerimônia que o Estado brasileiro promove hoje com a memória de João Goulart é uma afirmação da nossa democracia", escreveu.

Morte ocorreu em exílio na Argentina

Deposto no golpe militar de 1964, Jango morreu em 6 de dezembro de 1976 em sua fazenda em Mercedes, na Argentina. Cardiopata, ele teria sofrido um infarto, mas uma autópsia nunca foi realizada. Na última década, novas evidências reforçaram a hipótese de que o ex-presidente pode ter sido envenenado por agentes ligados à repressão uruguaia e argentina, a mando do governo brasileiro.

A principal delas foi o depoimento dado pelo ex-espião uruguaio Mario Neira Barreiro ao filho de Jango, João Vicente Goulart, em 2006. Preso por crimes comuns, ele cumpria pena em uma penitenciária de Charqueadas, no Rio Grande do Sul, quando disse que espionava Jango e que teria participado de um complô para trocar os remédios do ex-presidente por uma substância mortal.

Em 2007, a família de Jango solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) a reabertura das investigações. O pedido de exumação foi aceito em maio deste ano pela Comissão Nacional da Verdade (CNV). Tanto o governo federal quanto membros da família Goulart acreditam que há indícios de que o ex-presidente possa ter sido assassinado.

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