A verdadeira vítima da crise política resultante do embate sobre a MP (medida provisória) dos Portos é a relação do Palácio do Planalto e seu maior sócio, o PMDB.
Vejamos alguns elementos:
1 - O líder peemedebista na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), foi demonizado por governistas como defensor de interesses privados e coisa pior. O Planalto está feliz da vida com isso, pois nunca o considerou um aliado confiável.
O problema é que com isso há a desautorização do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), que avalizou a condução de Cunha ao cargo.
E, de quebra, é humilhada a facção fluminense do governador Sérgio Cabral (RJ), que já administra uma crise própria com o PT devido à determinação do partido de Dilma Rousseff em lançar um candidato (o senador Lindbergh Farias) à sua sucessão no ano que vem.
2 - Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara, foi acusado nas rodas palacianas de deixar o jogo correr solto ontem, na confusa e quase ao estilo sul-coreano (ou seja, pancadaria entre deputados) sessão em que foi encaminhada a votação da MP.
Se foi falta de controle ou ajuda velada a Cunha, importa pouco agora. O deputado tem uma agenda própria, que inclui fazer que as emendas parlamentares ao Orçamento da União tenham de ser obrigatoriamente aceitas pelo Executivo, e sua relação com a coordenação política do governo é das piores.
3 - No Senado, na hipótese de haver tempo hábil para votar a MP, a bola estará com Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente da Casa. Ainda que faça mágica, e truques para tal não faltam, irá acentuar a diferença com seus colegas peemedebistas da Câmara e terá uma fatura para cobrar do Planalto.
4 - Houve uma geleia geral na longa sessão de ontem entre os governistas. Deputados da base atacaram-se mutuamente, o PT foi tímido, para dizer o mínimo, na defesa do Planalto, e entrou em choque direto com o PMDB em vários momentos.
E o que isso tudo significa?
Que a montagem dos palanques estaduais e presidencial para 2014 vai sendo contaminada por desconfianças mútuas, para não dizer ódios latentes. E isso está longe de ser confortável para Dilma, que não é exatamente conhecida por sua capacidade de articulação.
Que a montagem dos palanques estaduais e presidencial para 2014 vai sendo contaminada por desconfianças mútuas, para não dizer ódios latentes. E isso está longe de ser confortável para Dilma, que não é exatamente conhecida por sua capacidade de articulação.
Sua coordenação política falhou fragorosamente na condução da negociação, deixando tudo para a última hora. Pode até vender que derrotou Eduardo Cunha, o que de fato aconteceu, mas essa tende a ser uma vitória de Pirro, aquela em que o preço final não compensa.
Vê o aliado, que segue com o comando do Congresso, conflagrado e desconfiado e ainda corre o risco do imponderável: interesse contrariado é a melhor fonte para revelar escândalos no Brasil.
Vê o aliado, que segue com o comando do Congresso, conflagrado e desconfiado e ainda corre o risco do imponderável: interesse contrariado é a melhor fonte para revelar escândalos no Brasil.
Agora, a corrida nos bastidores será mais para tentar apaziguar o cenário do que realmente fazer alguma mudança estrutural no sistema portuário brasileiro.
Folha de São Paulo
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