quinta-feira, 16 de maio de 2013

Relação com o PMDB é colocada à prova em votação sobre portos

A verdadeira vítima da crise política resultante do embate sobre a MP (medida provisória) dos Portos é a relação do Palácio do Planalto e seu maior sócio, o PMDB.

Vejamos alguns elementos:

1 - O líder peemedebista na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), foi demonizado por governistas como defensor de interesses privados e coisa pior. O Planalto está feliz da vida com isso, pois nunca o considerou um aliado confiável. 

O problema é que com isso há a desautorização do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), que avalizou a condução de Cunha ao cargo. 

E, de quebra, é humilhada a facção fluminense do governador Sérgio Cabral (RJ), que já administra uma crise própria com o PT devido à determinação do partido de Dilma Rousseff em lançar um candidato (o senador Lindbergh Farias) à sua sucessão no ano que vem.

2 - Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara, foi acusado nas rodas palacianas de deixar o jogo correr solto ontem, na confusa e quase ao estilo sul-coreano (ou seja, pancadaria entre deputados) sessão em que foi encaminhada a votação da MP. 

Se foi falta de controle ou ajuda velada a Cunha, importa pouco agora. O deputado tem uma agenda própria, que inclui fazer que as emendas parlamentares ao Orçamento da União tenham de ser obrigatoriamente aceitas pelo Executivo, e sua relação com a coordenação política do governo é das piores.

3 - No Senado, na hipótese de haver tempo hábil para votar a MP, a bola estará com Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente da Casa. Ainda que faça mágica, e truques para tal não faltam, irá acentuar a diferença com seus colegas peemedebistas da Câmara e terá uma fatura para cobrar do Planalto.

4 - Houve uma geleia geral na longa sessão de ontem entre os governistas. Deputados da base atacaram-se mutuamente, o PT foi tímido, para dizer o mínimo, na defesa do Planalto, e entrou em choque direto com o PMDB em vários momentos.

E o que isso tudo significa? 

Que a montagem dos palanques estaduais e presidencial para 2014 vai sendo contaminada por desconfianças mútuas, para não dizer ódios latentes. E isso está longe de ser confortável para Dilma, que não é exatamente conhecida por sua capacidade de articulação.

Sua coordenação política falhou fragorosamente na condução da negociação, deixando tudo para a última hora. Pode até vender que derrotou Eduardo Cunha, o que de fato aconteceu, mas essa tende a ser uma vitória de Pirro, aquela em que o preço final não compensa. 

Vê o aliado, que segue com o comando do Congresso, conflagrado e desconfiado e ainda corre o risco do imponderável: interesse contrariado é a melhor fonte para revelar escândalos no Brasil.

Agora, a corrida nos bastidores será mais para tentar apaziguar o cenário do que realmente fazer alguma mudança estrutural no sistema portuário brasileiro.

Folha de São Paulo

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