domingo, 16 de junho de 2013

Da rede social às ruas, indignação dos jovens

O aumento das passagens do transporte público não é o principal motivo da onda de protestos que toma conta do país. 

Para analistas políticos ouvidos pelo Brasil Econômico, as manifestações estão ligadas a um nível maior de insatisfação e à falta de perspectiva do brasileiro para uma vida melhor, sobretudo por parte dos jovens.

“Temos hoje um caldo de insatisfação no país”, diz a jornalista e ex-secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (MinC) Marta Porto. 

“A percepção é de que existe um abismo entre o bem estar da sociedade e o desenvolvimento econômico e que a onda de oportunidades que vem sendo maciçamente divulgada não chega para todos”, avalia.

O sociólogo Paulo Gajanigo, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), concorda que a adesão maciça tem a ver com o grau de descontentamento geral. “Quando não há protesto, não quer dizer que não haja insatisfação. O sentimento de impotência bloqueia muito o sentimento de indignação”, argumenta. 

“A juventude não tem sido beneficiada com o que se propõe de desenvolvimento no país. De modo geral, existe uma tendência de aumento das manifestações e de um espaço cada vez menor entre elas”, alerta, lembrando a proximidade da Copa das Confederações, da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. “O governo deveria se preocupar com isso”, afirma.”O que pode estourar não é previsível”.

Para Gajanigo, o potencial organizativo tem a ver com as redes sociais. E ainda que tenham causas diferentes, os protestos no Brasil são parecidos, em forma, com aqueles que aconteceram na praça Tahrir, no Cairo, e que derrubaram o presidente Hosni Mubarak em 2011, e com os protestos na praça Puerta del Sol, em Madri, e em Wall Street, em Nova Iorque – esses dois últimos reflexos da crise econômica mundial. E, mais recentemente, na praça Taksim, em Istambul.

“O mundo está experimentando novas armas, aprendendo a se mobilizar com as possibilidades que as redes sociais oferecem, descobrindo que esse é um instrumento bastante eficaz de mobilização. Há uma nova vivência que começa nas redes sociais e vai para a rua”, explica, acrescentando que outra característica dessas manifestações é que, além de imprevisíveis, estão sendo organizadas e convocadas nas redes sociais, sem a mão de um partido ou sindicato.

“O mundo tem se mobilizado não por causas, mas por questões cotidianas que afetam a qualidade de vida, como o desemprego e a inflação”, diz a ex-secretária do MinC. 

“No caso dos jovens, um motivador é a dificuldade de vislumbrar perspectivas de futuro em um mundo pressionado pelo controle e pela competição insana. O Brasil é hoje um barril de pólvora. O problema é quando essa insatisfação toma um volume sem medida e os protestos viram confrontos com a polícia e danos ao patrimônio público”, afirma.

Marco Antônio Carvalho Teixeira, vice-coordenador do curso de Administração Pública da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), acredita que o movimento deve perder fôlego.

”Por mais que a reivindicação pareça justa, percebe-se claramente uma falta de consistência e de uma agenda mais ampla nesses protestos”, argumenta.


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