quinta-feira, 27 de junho de 2013

Quanto vale, agora, o apoio de Cabral?

O governador Sérgio Cabral tem colecionado motivos para pesadelos, mas é possível que mal esteja conseguindo dormir, tal o barulho abaixo dos janelões do apartamento em que mora no elegante bairro do Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro. 

Nos últimos dias, depois de uma bem sucedida passeata que saiu da favela da Rocinha com cerca de 2,5 mil moradores, integrantes da comunidade resolveram fazer uma vigília permanente no endereço do governador. 

Em lugar de um teleférico planejado pelo governo estadual, avisaram, ao seu modo, que preferiam investimentos reais em saúde e educação na maior e mais conhecida favela do País. Ali, estão acampados, sem ainda terem sido recebidos.

A dezenas de quilômetros da Zona Sul de Cabral, os motivos para assombrar o governador são mais tenebrosos. Na Complexo da Maré, depois de um sargento do Bope, a tropa de elite da Polícia Militar, ter sido assassinado a tiros, uma guerra aberta foi desatada. 

Debaixo de fogo cerrado de metralhadoras e fuzis, mais de 6,5 mil crianças ficaram sem aulas entre a segunda-feira 24 e a terça 25. A favela Nova Holanda, integrada à comunidade, ficou 36 horas sem luz e nada menos que nove homens foram mortos – três deles reconhecidos pela própria polícia como inocentes. Quatorze pessoas saíram feridas dos conflitos, três em estado grave.

FAROESTE NA BARRA - Nas duas pontas de conflito – no protesto pacífico ao pé de sua residência e no crime organizado que enfrenta o Bope --, o que Cabral tem diante de si são, no limite, fraturas expostas da administração estadual nas áreas social e de segurança. 

Eleito para uma segunda gestão com 64% dos votos, o governador vê sua popularidade minguar, com extrema fluidez, em todas as regiões da capital, em diferentes cidades do Estado e nas classes sociais mais díspares.

No mais festejado dos centros emergentes do Rio, a Barra da Tijuca, uma dezena de bandidos armados aproveitou-se de uma manifestação de protesto de classe média, na semana passada, por melhorias no sistema de transporte coletivo, para tentar assaltar no melhor estilo do velho oeste, com tiros para o alto e fuga em velocidade, uma concessionária de carros importados. Um detalhe, digamos, a mostrar que o Rio torna-se rapidamente, outra vez, um barril de pólvora? Pode ser.

MARACANÃ BILIONÁRIO - Cabral também está no centro das críticas aos gastos excessivos com estádios para a Copa do Mundo. Ele, afinal, presidiu uma reforma do Maracanã, ao custo de mais de R$ 1 bilhão, que não agregou nenhuma obra de mobilidade urbana para a cidade. 

Ao contrário. O estádio só foi inaugurado, com jogo oficial da seleção brasileira, por força de liminares, uma vez que o entorno foi considerado inseguro pelo Ministério Público.

Os responsáveis pela obra de reforma do Maracanã não tomaram cuidados elementares com a preservação de prédios históricos próximos, como o Museu do Índio – o que motivou, antes da onda atual de manifestações, um protesto indígena com contornos de violência e dramaticidade. 

A obra bilionária do Maracanã foi iniciada pela empreiteira Delta, considerada no ano passado inidônea pela Justiça e cujo presidente, Fernando Cavendish, teve de se afastar de suas funções diante de escândalos de propinas e superfaturamentos em canteiros de todo o País. Tudo torto.

POSTE BEM FINCADO - Minguante hoje, Cabral tem procurado, nos últimos meses, bancar jogadas de pressão sobre a presidente Dilma. 

Fazendo-se de amigo e parceiro, ameaçou não aceitar o estabelecimento, nas eleições do próximo ano, do chamado palanque duplo, em que a presidente poderia apoiar um candidato de seu partido, o PT, sem, necessariamente, romper com a administração estadual. 

Insatisfeito com essa possibilidade, Cabral só aceita o apoio oficial ao seu vice-governador, Luiz Fernando Pezão que, como temiam os estrategistas do PMDB, vai se mostrando um bem fincado poste eleitoral.

Desde as primeiras pesquisas até as atuais, Pezão não sai da lanterna, fechando na quarta posição entre os mais citados – não por acaso, os adversários de Cabral Anthony Garotinho, do PR, e Lindbergh Farias, do PT. 

Garotinho, de resto, ocupou a tribuna da Câmara dos Deputados, como líder do PR, para elogiar a iniciativa de cidadania dos moradores da Rocinha, frisando a reivindicação de apontarem, eles próprios, as suas prioridades. De quebra, ironizou o cerco a Cabral: "Onde o governador vai dormir hoje?", divertiu-se.

Cercado pela Rocinha, que desceu, entre conflitos com o crime organizado, que recrudesce, e com sua joia, o Maracanã, em xeque, Cabral simplesmente não tem espaço para fazer seu escolhido Pezão avançar nas pesquisas. 

O governador do Rio vai se tornando a primeira grande vítima política do novo momento político do País. Virou alvo.

Brasil 247

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