quarta-feira, 12 de junho de 2013

Retrato do momento

A testa apoiada na mão direita, os olhos cerrados em sinal de cansaço, o s lábios formando um ríctus da irritação. 

O teor do bilhete pendente na mão direita deve ter sido apenas gota d’água, na torrente de problemas dos últimas dias, que levou a sempre contida e litúrgica presidente Dilma Rousseff a permitir o registro da imagem, durante cerimônia sobre mudanças climáticas na quarta-feira passada.

Nenhuma outra fotografia, depois de sua posse, revelou tanto estresse. Nosso
sistema límbico não falha, denuncia os sentimentos pelas expressões faciais. 

Mas a foto e as agruras decorrem de um momento ainda distante da prova de fogo de 2014. Analistas e protagonistas não devem subestimar a conjuntura nem fazer apostas fatalistas em seu agravamento e em suas conseqüências políticas.

O primeiro semestre está terminando com problemas agudos nas frentes econômica, social e política. Ao longo da semana passada o dólar disparou, as bolsas caíram e a inflação, embora exibindo recuo em maio (0,37 contra 0,55 em abril), encostou no teto da meta em 12 meses (6,5%). 

A ata do Copom, da reunião que elevou os juros para 8%, fez várias advertências sobre a renitência da inflação.

INDICADORES RUINS

Maio terminou com o IBGE divulgando um crescimento de apenas 0,6% no primeiro trimestre, menor que o esperado, embora tenha havido crescimento de 1,9% em relação ao mesmo período de 2011. Na balança comercial, déficit de US$ 5,392 bilhões desde janeiro. 

E para completar, pela primeira vez desde 2002, uma agência de risco, a mesma que em 2008 conferiu ao Brasil o festejado “grau de investimento” (S&P), fez apreciação negativa sobre a economia brasileira. 

O Governo não nega o inegável mas aposta que o vento ruim na economia vai começar a virar.

Na área social, houve a anárquica onda de saques dos benefícios do Bolsa-família, provocados pela mal explicada antecipação dos depósitos pela CEF e por ainda não esclarecida onda de boatos sobre fim do programa. 

A questão indígena ressurgiu forte, com ocupação de obras e conflitos na desocupação de fazendas. A violenta ação policial terminou com um índio morto e um ferido. 

Muito feio, na hora em que o brasileiro Paulo Vannucchi é eleito para a comissão interamericana de direitos humanos. O aumento de tarifas de ônibus deflagrou ações de vandalismo em São Paulo e outras cidades.

Ao Nordeste que sofre com a seca Dilma anunciará um plano para a agricultura do semi-árido. Apesar de tudo isso, dizem auxiliares dela, m, não há desemprego nem encolhimento da renda. O sentimento de melhora de vida continua alto. O Governo tem lá suas pesquisas.

Na política, as dificuldades econômicas dão discurso para o principal candidato de oposição, o tucano Aécio Neves Dilma enfrenta problemas com a base aliada no Congresso, que ameaça derrubar seus vetos à lei dos portos e aprovar o orçamento impositivo. 

A antecipação da campanha atiçou as disputas estaduais na coalizão. Mas, enquanto a aprovação ao Governo e a popularidade da presidente se mantiverem altos, ninguém vai saltar do barco.

Dos nove partidos que a apoiaram em 2010, todos já se comprometeram com ela para 2014, exceto o PSB do provável concorrente Eduardo Campos.

Há muito jogo pela frente mas, para seguir como favorita, Dilma precisa manter acesa a chama de satisfação da maioria do eleitorado. E isso, agora, passa a depender também das condições da economia, uma variável de controle relativo.

Tereza Cruvinel (Correio Braziliense)

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