sexta-feira, 12 de julho de 2013

Padilha vacila, se perde e sucumbe à vaia das ruas

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, teve quase dois anos, desde a eleição do prefeito Fernando Haddad, para transferir seu domicílio eleitoral de Santarém, no Pará, para São Paulo, onde sonha ser candidato a governador pelo PT em 2014.

- Não penso nisso agora, disse Padilha aos jornalistas no dia em Haddad foi eleito.

Agora, menos de um mês depois de voltar a ser eleitor paulista – e insistir em seu desinteresse eleitoral -, como político, e como ministro, Padilha já enfrenta sua pior hora. 

Um momento capaz de incluí-lo no que alguns chamam de efeito Pearl Harbor, pelo qual uma pré-candidatura é abatida antes mesmo da decolagem, como aconteceu com os aviões americanos bombardeados em solo pelos japoneses na 2ª Guerra.

As fortes polêmicas em torno do programa Mais Médicos, baixado em forma de Medida Provisória, e o Ato Médico, aprovado pelo Congresso, simplesmente caíram como um raio sobre esse chamado poste político que o ex-presidente Lula vinha considerando como candidato do PT ao governo paulista. Deu curto-circuito. Queimou.

Como se sabe, será Lula, e só ele, quem indicará o concorrente do partido em 2014. O ex-presidente estava preocupado com a falta de uma marca forte do governo Dilma na Saúde, mas nos dias anteriores às manifestações estudantis de junho circulou o forte rumor de que Padilha havia se tornado, definitivamente, o escolhido por Lula.

Desde então, porém, aconteceu de o Brasil mudar – e Padilha foi tragado pela maré mudancista.

Depois de aprovado no Congresso, a repercussão negativa do Ato Médico entre entidades e profissionais da classe, que realizaram protestos contra a legislação e o ministro da Saúde em quase todo o país, mostrou o quanto, para dizer o mínimo, seu conteúdo foi mal discutido. 

Sem o menor consenso, imediatamente o texto atraiu a ira das principais lideranças do setor, inclusive autoridades.

PERDIDO EM CAMPO - "Veta tudo!", disse o presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto D'Ávila, ao ministro, durante telefonema tarde da noite, esta semana, com o qual Padilha tentava, tardiamente, arrefecer a fúria da classe diante dos vetos presidenciais a serem anunciados. Essa tentativa, como se viu, não deu certo. 

Ao saberem que a presidente Dilma vetara o artigo que concedia exclusividade aos médicos para a feitura de diagnósticos e aplicação de injeções, a oposição recrudesceu. Antes, a longa novela sem fim da contratação de médicos cubanos, possibilidade aberta pelo programa Mais Médicos para o Brasil, criado em forma de MP, mostrou um Padilha perdido em campo.

Primeiro, ele foi o maior defensor da chegada dos profissionais estrangeiros da ilha socialista, mas já havia se esquecido de combinar com as demais partes interessadas. Diante da vaia recebida até mesmo nas ruas, onde a correta proposta foi desvirtuada pelo prisma ideológico, Padilha, em lugar de aumentar-lhe a defesa, simplesmente a abandonou. 

Trocou os cubanos, sem prévio aviso e sem qualquer explicação formal à sociedade (onde, é claro, havia uma larga base de apoio à proposta), por um arremedo de negociações com Espanha e Portugal – estas, por seu vez, igualmente abandonadas no meio do caminho, com o ministro que iria pegar um avião para tratar dos primeiros detalhes de desembarque tendo ficado pelo Brasil mesmo fazendo telefonemas indigestos.

Mesmo sem entrar no mérito das qualidades e defeitos do Ato Médico e do programa Mais Médicos, o que sobressai é a falta de jeito e firmeza de Alexandre Padilha na condução de todo o processo – e a igualmente atabalhoada maneira com que ele vai procurando, sem deixar claro seus movimentos, atenuar a grita generalizada contra essas iniciativas. Ele está sendo um fracasso de comunicação, ao menos.

Num momento em que tudo o que a presidente Dilma Rousseff não precisa é de mais problemas, Padilha criou um dos grandes, que vai ganhando desdobramentos negativos para o governo. 

Até José Serra, auto-considerado o melhor ministro da Saúde de todos os tempos, reassumiu seu papel -- um dos que lhe é preferido.

Padilha atrapalhou o governo e ajudou adversários a partir de ideias que chegavam a ser singelas e revolucionárias ao mesmo tempo - a de assentar nos rincões brasileiros profissionais cubanos experientes e treinados, prontos para elevar o padrão da saúde pública nacional, assim como prestigiar profissionais do setor com mais liberdade de movimentos em campo, tentativa de suprir a crônica falta de médicos no País. 

Porém, ao correr do debate ideológico, não sustentar uma proposta técnica e gerar uma crise política de fortes proporções, Padilha decepcionou com estardalhaço, e virou um poste político a menos.

Brasil 247

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