terça-feira, 16 de julho de 2013

Querem destruir o Maracanã. De novo.

Copa do Mundo 1950 
Brasil X Uruguai
199.854 torcedores presentes!
O maior arquiteto brasileiro, Oscar Niemeyer, foi derrotado no concurso que escolheu o projeto do Maracanã. Ele dizia que a decisão foi justa: o desenho vencedor era mesmo imbatível.

O pai de Brasília reconhecia a perfeição do anel de concreto, da longa marquise sobre a torcida e da acústica do Mário Filho, que ecoava o grito da arquibancada para os ouvidos de cada jogador em campo.

Este templo, o mais sagrado do futebol, não existe mais. Foi destruído pelo governo do Rio, que ignorou a lei de tombamento e o demoliu com aval de burocratas do Iphan.

O novo estádio construído no lugar do Mário Filho é mais funcional, segundo quem já o visitou, mas perdeu as características que faziam seu antecessor ser diferente de todos os outros.

Faça uma busca por fotos do estádio olímpico de Kiev, reaberto em 2011. Transformaram o palco do milésimo gol de Pelé, dos dribles de Garrincha e dos 333 gols de Zico numa cópia de arena da Ucrânia.

IMITANDO OS UCRANIANOS

Agora, as empresas que venceram o leilão do estádio ameaçam destruir o Maracanã de novo. 

O presidente do consórcio que venceu a licitação do estádio, João Borba, anunciou que o torcedor não poderá mais torcer como antes. Terá que imitar, talvez, os ucranianos.

Bandeiras e tambores serão proibidos, e ninguém poderá assistir aos jogos em pé ou sem camisa, mesmo sob o sol de 40 graus. “Fui no final de semana às finais do tênis em Wimbledon e, no convite, estava escrito que não é recomendável ir com determinada roupa”, disse Borba, transbordando de deslumbramento numa entrevista ao jornal “O Globo”.

Eu também estava em Wimbledon, cobrindo a partida para a Folha. Posso afirmar que não há comparação possível entre o ambiente grã-fino da quadra central e a tradição democrática do Maracanã, onde ricos e pobres sempre tiveram espaço para apoiar seu time de coração.

Por sinal, os ingressos da final no aristocrático All England Lawn Tennis and Croquet custaram o equivalente a R$ 445 nas bilheterias oficiais. É isso que espera o torcedor carioca, que pagou com seus impostos a obra de mais de R$ 1 bilhão do novo estádio?

A CHARANGA DO ARY


Se gostassem de futebol, os administradores do Maracanã deveriam conhecer a história da Charanga do Flamengo, a primeira torcida organizada do Brasil, batizada por Ary Barroso e fundada em 1942. 

A banda resiste heroicamente até hoje, preservada por rubro-negros que testemunharam os primeiros jogos do estádio. Se o veto aos tambores for mantido, a Charanga vai virar pó como o velho Mário Filho.

Bernardo Mello Franco (Folha)

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