O acumulado de alertas de desmatamento na Amazônia entre agosto do ano passado e julho deste ano voltou a subir pela primeira vez desde 2011 e ficou 34,784% superior à taxa registrada no mesmo período do ano passado.
Os dados, divulgados ontem pelo Ibama, a partir do monitoramento feito pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), ainda não representam o valor oficial de desmatamento da Amazônia - que só é obtido por outro sistema do INPE, o PRODES, divulgado normalmente em novembro mas são vistos por ambientalistas como um forte indicativo de tendência de alta.
Se isso se confirmar no fim do ano, será a inversão de uma curva de queda iniciada em 2008 e que culminou, no ano passado, com a menor taxa desde o início do monitoramento.
Segundo o Deter, no período houve uma perda de 2.765,62 km² de floresta, contra 2.050,97 Km² entre agosto de 2011 e julho de 2012. O mês mais grave foi maio, quando houve perda de 464,96 km².
Após o pico, medidas de comando e controle se intensificaram e em junho o desmate ou a degradação ocorreram em 210,4 km². Em julho, subiu para 217,45 km².
Os números se referem a alertas em tempo real do Inpe que servem para orientar ações de fiscalização do IBAMA. O sistema vê tanto desmatamentos propriamente ditos - os chamados cortes rasos (somente os superiores a 25 hectares) - quanto a degradação da floresta, como uma forte queimada. Essa degradação não necessariamente vai levar, no futuro, ao desmatamento, apesar de ser esse um caminho bastante possível.
Mais preciso
O PRODES vê cortes a partir de 8 hectares, justamente o tamanho que mais tem ocorrido, por ser mais difícil de detectar pelo DETER. Por isso, o valor total é superior ao consolidado dos alertas.
Convergência.
E essa tendência de alta observada pelo sistema dialoga com um monitoramento independente feito pelo instituto de pesquisa Imazon, que também observa com satélite o desmatamento da região, mas em uma fração menor que o INPE. Segundo esse levantamento, para o período a perda de floresta dobrou.
"Os dois levantamentos convergem e mostram uma tendência de alta. Só vamos ter certeza em novembro, com o PRODES, mas os números que temos até o momento e os sinais que estamos recebendo do campo - de operações, fiscalizações, autuações, informações de prefeitos, de produtores rurais - são de aumento", afirma Adalberto Veríssimo, do Imazon.
A opinião do governo é diferente. Luciano Evaristo, diretor de Proteção Ambiental do Iba- ma, órgão responsável pela fiscalização de desmatamento, defende que o ano fechará com uma taxa equilibrada - "talvez um pouco menor ou um pouco maior que no ano passado".
"O DETER não se presta a medir o desmatamento, mas a gerar alertas para que possamos mandar a fiscalização apurar. É rápido, mas impreciso. Ele enxerga tudo, água, rocha, queimada, como se fosse desmatamento."
Segundo Evaristo, de todos os alertas, foi possível qualificar em campo 66% e, desse total, somente 57% era de fato corte raso. Diz também que, nos picos de maio e de agosto do ano passado, a maior parte dos alertas era de queimada, que não impactariam o PRODES. "É ele que vai dizer com certeza. Mas a nossa percepção é de que teremos um equilíbrio."
Estadão
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