terça-feira, 29 de outubro de 2013

A frase que deu R$ 20,5 bilhões para a Petrobras em um único dia

Graça Foster
A Petrobras ganhou quase R$ 20 bilhões de valor de mercado nesta segunda-feira (28). Os ativos PETR3 registraram ganhos de 9,83%, a R$ 18,89, enquanto os papéis PETR4 tiveram expressiva valorização de 7,57%, a R$ 19,89. O valor de mercado pulou de R$ 232,3 bilhões para R$ 252,8 bilhões. 

Por trás dessa valorização, os desdobramentos do resultado da companhia divulgado na última sexta-feira. Mas os números caíram forte e a companhia ainda decidiu incorporar totalmente a refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, admitindo que levou um calote da PDVSA. 

Por trás dessa alta, uma única frase: "a Diretoria Executiva deliberou e apresentou ao Conselho de Administração uma metodologia de precificação a ser raticada pela Companhia, através da qual se tenha maior previsibilidade do alinhamento dos preços domésticos do diesel e da gasolina aos preços internacionais". A perspectiva pela metodologia, portanto, fez com que a ação disparasse. Graça Foster anunciou proposta de nova metodologia de preços de combustíveis (Reuters) 


O mercado pouco sabe os detalhes da proposta - quase nada é público até o momento. Mas a maior previsibilidade em relação aos resultados futuros da empresa foi muito bem recebida, além da perspectiva de que a diferença entre os preços, aqui e lá fora, sejam diminuídas automaticamente com essa metodologia.  

Apesar dos resultados ruins, os analistas são unânimes em dizer que o resultado será ofuscado pela perspectiva de mudança na metodologia de reajuste, de modo a dar "maior previsibilidade do alinhamento de preços domésticos do diesel e da gasolina aos preços internacionais". 

Para os analistas do HSBC, a proposta tem maior relevância para as perspectivas da companhia do que o resultado em si. As questões a serem colocadas agora é de que com que ritmo e quando as mudanças serão implementadas. O prazo fixado pela administração para analisar a proposta é 22 de novembro. 

"Não há como negar que a nova metodologia de precificação é positiva para Petrobras, pois acreditamos que isso poderia levar a muito maior visibilidade sobre o alinhamento de preços do mercado interno com os preços do mercado internacional", destacam os analistas, ressaltando também o aumento da produção para o próximo ano. 

Conforme destacam os analistas do Credit Suisse, Vinicius Canheu e André Sobreira, o terceiro trimestre pode representar uma transformação, mas não por causa dos números, e sim porque a mudança de metologia pode mudar a perspectiva sobre a tese de investimento para a companhia. 

Canheu e Sobreira destacam que, com a proposta de nova metodologia, deve aumentar a percepção sobre a governança corporativa, dar maior previsibilidade sobre a geração de caixa e permitir aos investidores que avaliem melhor os números da companhia, além de uma melhor perspectiva no longo prazo para a empresa. Caso a paridade de preços seja alcançada e a produção cresça 15% até 2015, os ganhos da companhia podem subir 79%. 

Conforme apontam os analistas, um aumento de preços de 5% na gasolina e 15% no diesel, que fecharia a diferença entre os preços nacionais e internacionais, pode levar a um aumento no Ebitda de US$ 6,8 bilhões e de US$ 4,8 bilhões no lucro, um aumento de 24% e 45% sobre o nível de 2013. 

"Se aprovado e implementado, isto [mudança de metodologia] pode melhor a transparência e a percepção de risco do balanço", avalia o analista Frank Mcgann, do Bank of America Merrill Lynch. 

Anúncio pode mudar história da companhia, mas ainda há dúvidas

Já para o analista do BTG Pactual, Gustavo Gattas, o anúncio pode mudar a história da Petrobras. Contudo, ele questiona se o governo brasileiro realmente se deu conta do senso de urgência sobre a necessidade de resolver os problemas da estatal antes que eles se tornem incontroláveis. 

Ele destaca que, se os executivos realmente veem a questão dos preços como algo tão importante como mostra a carta da presidente, não faria sentido então aumentar os preços agora, mas sim esperar que eles sejam corrigidos, mesmo que demore um pouco mais do que o que se gostaria. O BTG reiterou a recomendação neutra para as ações, mas tirou o viés negativo, avaliando esperar até 22 de novembro para ter um catalisador. "Mas agora, há esperança", afirma o analista. 

O que é importante a partir de agora? Para Gattas, é entender a proposta dos executivos, com que rapidez serão capazes de resolver os problemas de fluxo de caixa e se os executivos têm o apoio do governo nacional. "Na margem, a história da Petrobras já se tornou melhor, mas para ser realmente otimista e vê-la como uma ação para compra, gostaríamos de ter certeza que a alavancagem vai melhorar", avalia o analista. 

Números chamam a atenção

A companhia reportou um lucro líquido de R$ 3,39 bilhões, bem abaixo da expectativa do mercado, registrando uma queda de 39% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Contudo, avaliam os analistas, estes números perdem importância em meio ao anúncio da companhia de que irá propor uma mudança na metodologia de reajuste de preços. 

Conforme destaca a equipe de análise da XP Investimentos, o abastecimento foi o grande vilão dos resultados, em meio aos maiores custos com aquisição e transferência de petróleo decorrentes da apreciação do dólar frente ao real associada à elevação das cotações internacionais da commoodity, bem como a maior participação de derivados importados no mix de vendas para atender a demanda sazonal, determinaram o aumento do resultado negativo. 

Além disso, o endividamento é outro ponto preocupante, com a companhia atingindo uma relação entre dívida líquida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 3,05 vezes; com a entrada no campo do pré-sal de Libra, essa relação pode aumentar para 3,14 vezes, mais um motivo de receio. 

Conforme ressaltam os analistas da HSBC, a alta alavancagem da companhia continua a ser preocupante; a relação entre o endividamento líquido e patrimônio líquido encerrou em 35%, acima do patamar de 35% desejado pela companhia. 

Desta forma, os analistas Luiz Carvalho e Filipe Gouveia mantêm a cautela com as ações da empresa, reiterando recomendação neutra para os papéis e com preço-alvo de R$ 17,00 para os ativos preferenciais, preferidas em relação às ONs. Isso porque, de acordo com eles, o resultado ruim do trimestre deve limitar as chances de maiores dividendos para as ações ordinárias. 

"O resultado da companhia veio abaixo das expectativas, principalmente em decorrência da redução do lucro operacional", destaca a analista Carolina Flesch, do BB Investimentos. Contudo, aponta a analista, os próximos balanços da estatal deverão ser positivamente impactados pela retomada da produção de óleo e LGN, já observada no mês de setembro, levando a uma alta na produção de 3,7%, e pela continuidade dos programas estruturantes (Programa de Desinvestimentos e Programa de Otimização de Custos Operacionais). 

Expectativas para a produção animam

Assim como a analista do BB Investimentos, o Credit Suisse também destaca os números de produção da petrolífera, que está adicionando dez novas plataformas e mais de milhão de barris diários de capacidade de produção líquida até 2015, o que torna viável um crescimento de 15% na produção. 

Além disso, a receita e o Ebitda de US$ 41 bilhões e US$ 18 bilhões em 2015, colocaria a ação a um múltiplo de preço sobre lucro de 5,7 vezes, avaliam os analistas Canheu e Sobreira, dando um desconto de 36% sobre as empresas de maior crescimento. 

Principais pontos da teleconferência

Vale ressaltar ainda os principais pontos da teleconferência da companhia, que ficou bastante concentrada, como não poderia deixar de ser, na nova metodologia de preços. Conforme destacou o diretor financeiro Almir Barbassa, a mudança de política visa reduzir a alavancagem da companhia, em um momento que o índice superou o "teto desejável". 

"Já ultrapassamos os níveis de que nos colocamos e também compatíveis com o nosso plano de negócios", destacou. De acordo com Barbassa, a nova metodologia inclui parâmetros como periodicidade e porcentual de aumentos. O diretor financeiro da companhia ressaltou ainda que o maior endividamento veio em função da menor geração operacional e do crescimento dos investimentos, além do pagamento de dividendos e de juros. 

Sobre a alavancagem da companhia, Barbassa ressaltou que o aumento para 36% era previsível e que o rating da Petrobras não deve ser rebaixado pelas agências de classificação de risco devido ao maior endividamento. Segundo ele, a tendência de crescimento da alavancagem passaria a se reverter com o aumento da produção e com a maior paridade entre os preços dos combustíveis cobrados aqui em relação aos internacionais. 

Sobre o leilão de Libra, Barbassa confirmou que os R$ 6 bilhões referentes ao pagamento do bônus de assinatura frente à participação de 40% da estatal sairão da empresa, além de destacar que não há obrigatoriedade de entrega de petróleo e qualquer tipo de financiamento da petrolífera com outros sócios. 

Em análise sobre a teleconferência da estatal, a equipe da XP Investimentos destacou a falta de clareza da proposta já aprovada pelo Conselho de Administração da Petro, mas também a possibilidade de maior previsibilidade nos resultados - a depender de como o projeto for aceito pelo governo. 

Vale lembrar que essa mudança metodológica é a grande aposta da companhia para solucionar seus problemas de alvancagem, que superaram o máximo estipulado pela companhia no último trimestre. 

Quando questionado sobre uma possível redução de Capex para caso o projeto proposto pela companhia não seja aprovado pelo governo, Barbassa disse que a estatal não trabalha com essa possibilidade, uma vez que confia na aprovação da medida. 

Enquanto o excesso de confiança do diretor da Petrobras pode trazer confiança para o mercado, que até o momento responde bem ao discurso, a falta de um plano B mais claro pode trazer riscos à companhia caso o governo não aceite pôr o controle da inflação em risco.

InfoMoney - Felipe Moreno / Lara Rizério

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