sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Conselhos indigestos.

No dia seguinte ao lançamento de seu livro e diante da repercussão de seu conteúdo, o deputado Marco Aurélio Ubiali, o Doutor Ubiali (PSB-SP), minimizou os impactos da publicação, mesmo admitindo que seus conselhos a políticos podem gerar má interpretação. Em “Marketing político — administrando o gabinete ele e o marqueteiro Sérgio Trombelli dão conselhos de como se dar bem na política.

Os dois recomendam que os parlamentares, no atendimento em seus gabinetes, priorizem os cabos eleitorais e os financiadores de campanha; visitem obras, e deem muita visibilidade ao evento; e peguem os dados pessoais de quem pedir ajuda, até para que time torcem e que religião professam. — Reconheço que algumas colocações podem gerar má interpretação. Não são dicas para ninguém enganar ninguém. Minha intenção foi ajudar. É um livro despretensioso — disse ontem Ubiali. 

Apesar de se apresentar como um especialista em marketing político, nas ú1limas cinco eleições que disputou, Ubiali elegeu-se apenas uma vez, em 2006, quando recebeu 84 mil votos para a Câmara dos Deputados. Só exerce mandato nesta legislatura porque ocupava uma suplência. 

Nos últimos anos, vem perdendo densidade eleitoral. Na primeira vez que disputou a prefeitura de Franca, em 2002, não foi eleito, mas recebeu 38,9 mil votos. No ano passado, encerrou a disputa com 26,2 mil votos.

Em 2010, teve 63,2 mil votos para deputado, 11 mil a menos que em 2006. O livro de Ubiali surpreendeu até o presidente do PSB estadual, deputado Márcio França. — Ubiali não é do ramo da política. Não creio que tenha essa expertise da qual o livro fala. Ele é uma pessoa muito correta e tem uma carreira respeitável — disse Márcio França, por telefone ao GLOBO. 

Esta não é, porém, a primeira incursão de Ubiali pela literatura de autoajuda a políticos. Com o mesmo colega, o marqueteiro Sérgio Trombelli, o médico já escreveu dois outros manuais, em 2009 e 2012. Trombelli é seu amigo e parceiro de cursos para médicos e gestores de saúde ligados à cooperativa médica Unimed, que, em 2010, contribuiu com R$ 285 mil dos R$ 671 mil arrecadados para sua campanha. 

— Uma campanha modesta. Não sou financiado por grupos econômicos — disse o deputado, que registrou um patrimônio de R$ 2,7 milhões na Justiça Eleitoral. O livro de Ubiali e Trombelli é uma publicação da Fundação João Mangabeira, vinculada ao PSB. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) disse ter se surpreendido com o conteúdo. 

— Esse é o novo partido da Marina Silva, que prega o novo na política. Mas o livro dá ênfase a aspectos negativos da velha e tradicional política nacional — disse Cinco Alencar, que lançou essa semana o livreto “Para que serve um deputado?” — onde prega o oposto. 

“Deputado não pode nem deve arrumar vaga privilegiada em hospital, escola ou qualquer outro serviço público. Deve lutar para que o atendimento de todas as pessoas seja eficiente e respeitoso. Deputado não é chefe de agência de emprego para conseguir colocação de pessoas em troca de voto e, sim, alguém que de- fende uma organização econômica que dê oportunidade a todos e todas” — diz Alencar em seu livro.

O Globo/Evandro Éboli/Tatiana Farah

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