sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Decifra-me ou te devoro na sucessão presidencial

Certamente, não sou a sacerdotisa Pítia, por quem falava o Deus Apolo, no famoso oráculo de Delfos, mas, como bom brasileiro que sou, também adoro um vaticínio. E as últimas pesquisas do Ibope e do Datafolha, acerca das eleições presidenciais de 2014, são bem curiosas e, por isso mesmo, instigantes. 

Segundo os prestigiados institutos, Dilma surraria, hoje, no segundo turno, Aécio Neves (47 a 9), Eduardo Campos (45 a 18) e José Serra (44 a 23); vencendo, também e por igual, Marina Silva (44 a 23). Todavia, sem a participação de Marina Silva no escrutínio, Dilma venceria já no primeiro turno, dizem os pesquisadores de ambos os institutos.

O que, entretanto, a pesquisa nos diz? Nada, absolutamente nada; a não ser que Marina Silva está aparentemente mais forte do que o próprio Eduardo Campos, presidente nacional do partido ao qual se filiou muito recentemente, o PSB. 

Em que pese seja inevitável lembrar as palavras do poeta epicurista Horácio quando sentenciou que “a Grécia vencida conquistou seu rude vencedor”, talvez seja muito cedo, ainda, para apostar que Marina Silva conquistará os integrantes do PSB com a nova filosofia política criada pelo Rede Sustentabilidade, tal qual os gregos conquistaram os romanos, através das artes, da cultura e do conhecimento científico, de modo a se tornar candidata do PSB à presidência nas eleições vindouras.

Mas não é só. Digo isto, também, porque, ainda que Marina Silva caia nas graças do PSB e Eduardo Campos abra mão de sua candidatura em prol da dela, em virtude de dados eminentemente matemáticos – livrando-se, assim, altruisticamente, de pagar penitência pelo cometimento do sexto pecado capital (a vaidade), o preferido de dez entre dez políticos -, fato é que, conquanto ciência exata, a estatística, ramo da matemática que é, também precisa basear seus cálculos nas variáveis corretas para conseguir chegar a um resultado igualmente acertado.

E AS VARIÁVEIS? 

Será que é isso que está acontecendo? A estatística apresentada pelos institutos de pesquisa é correta? Creio que não, e explico o porquê. É que tanto o Ibope quanto o Datafolha estão olvidando duas variáveis muito importantes do cenário político eleitoral brasileiro: Lula e Joaquim Barbosa.

Lula vem sofrendo pressão de grande ala do PT que quer que ele dispute a legenda com Dilma; e Joaquim Barbosa, alçado pelo povo ao cargo de paladino da ética, vem sofrendo, por sua vez, enorme pressão da sociedade para candidatar-se à chefia do Executivo – o que pode ser constatado muito facilmente cada vez que sai à rua ou comparece a um evento, tal a multidão que lhe pede autógrafos ou solicita fotos a seu lado.

Ouso vaticinar, então, que as recentes pesquisas de opinião, feitas sem os nomes de Lula e Joaquim Barbosa, não possuem qualquer valor estatístico real, já que a ausência dessas duas importantes variáveis torna errôneo, inelutavelmente imprestável, o resultado matemático a que chegaram.

Ou será que alguém duvida, em sã consciência, que se o Ibope e o Datafolha incluíssem o nome de Lula e Joaquim Barbosa na pesquisa, ao lado dos nomes de Marina Silva, Eduardo Campos, José Serra e Aécio Neves, o percentual do resultado matemático encontrado (e divulgado) seria totalmente diferente?

Para conhecer a real intenção de voto dos eleitores não é preciso decifrar o enigma da esfinge de Tebas, tal como fez Édipo, arriscando-se a ser por ela devorado. Basta que se faça a pergunta certa: “Em qual desses candidatos o senhor ou senhora votaria nas próximas eleições presidenciais: Lula, Joaquim Barbosa, Marina Silva, Eduardo Campos, José Serra ou Aécio Neves?”.

Fernando Orotavo Neto - Jurista, autor de várias obras sobre Direito, e professor de Processo Civil

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