sexta-feira, 14 de junho de 2013

Violência, a contramão da educação

Lígia Fleury
Psicopedagoga, palestrante, 
assessora pedagógica educacional, 
colunista em jornais 
de Santa Catarina
Cidade Maravilhosa e Terra da Garoa. O Rio de Janeiro ganhou esse “apelido carinhoso” na década de 30. Paisagens magníficas que sobrevivem ao tempo e ao descuido do Homem, talvez porque seja a força da natureza maior do que a ignorância humana.

A Terra da Garoa, a São Paulo que pode ter as quatro estações do ano em um único dia, não vive, apenas sobrevive; ela se reconstrói no dia a dia no meio de concretos que edificam sempre os bairros comerciais e residenciais.

Duas cidades extremamente importantes para a economia do nosso Brasil. Duas cidades com pontos turísticos maravilhosos; a cultura respirada em ambas, seja no ato que marcou uma época, seja ela retratada pela arquitetura, pela música, pela leitura, enfim, são duas cidades que brigam para não se renderem ao caos.

Duas cidades importantes, maravilhosas, mas que precisam hoje reagir. Poderiam ter agido na formação da sociedade, agido no cuidado com a saúde, agido na segurança pública, agido na oportunidade de escola e trabalho para todos. Não o fizeram. Então, agora, precisam reagir para sair do caos.

Refiro-me ao caos da displicência. Onde estamos todos nós quando vidas são tiradas com tamanha brutalidade e banalidade?

Onde estamos todos nós quando nos deparamos com agressões verbais, físicas ou emocionais e nos calamos?

Onde estamos nós quando a Educação deixa de ser valorizada?

Onde estávamos todos nós quando a escola deixou de ser para todos? Porque não podemos negar; a educação de qualidade é para a minoria. Isso é indiscutível. Infelizmente o que vemos de sucesso em escolas públicas e particulares, e esse sucesso é real, é para poucos. E deveria ser para todos.

De novo, somos todos responsáveis pelo caos.

Ninguém dá o que não tem. Então se não tem, que se crie! Não se oferece educação se nunca a recebeu. Não há mágica; é simples assim: aprende-se com as experiências, na troca com o outro.

Li um artigo que apresenta um dos belíssimos trabalhos desenvolvidos nos Morros do Rio de Janeiro e, por coincidência, no mesmo dia, outro que mostrava a ONG vencedora de um prêmio pela excelência do trabalho prestado em uma comunidade em São Paulo. Ambos acontecem em comunidades desfavorecidas de educação básica, segurança, higiene, saneamento e todas as condições mínimas necessárias para que se possa atribuir o Digna à Vida. Parabéns a esses guerreiros que fazem, que agem. Eles agem, reagindo ao que não foi feito antes. Esses guerreiros acreditam no possível. Esses guerreiros deveriam governar uma nação.

Em outro artigo meu, questionei: por que não se faz uma vez só e bem feito? E aqui estou novamente com a mesma questão: por que não se investe em Educação, Saúde e Segurança com o respeito que todo ser humano merece?

Parece simples: os pais ensinam – ao menos deveriam ensinar -, em casa, na família, a educação que abre as portas para a vida em sociedade e a escola faz a sua parte, ampliando o convívio com os demais, ampliando os horizontes do conhecimento.

A equação é simples: família + escola = EDUCAÇÂO

Educação de respeito, de valorização pela vida.

Outras mágicas: queremos segurança? Ensinemos respeito.

Queremos emprego? Ensinemos a responsabilidade

Queremos escola para todos? Ensinemos a valorizar a Educação.

Queremos qualidade na saúde publica? Ensinemos a prevenção.

Queremos paz? Ensinemos e cultivemos a tolerância.

Queremos justiça? Ensinemos ética.

Queremos limpeza? Ensinemos consciência ambiental.

Queremos falar? Ensinemos a ouvir.

Queremos um país decente? Tenhamos transparência, ética, leis justas, discernimento nas eleições.

Queremos nossos direitos? Façamos nossos deveres.

Queremos cidadãos? Ensinemos cidadania.

Parece simples. Mas não é. Porque não há ética, porque não há respeito, porque não se ensina a ser GENTE! Nasce-se GENTE! Ensina-se gente a ser cidadão.

E enquanto não mudarmos isso, a Cidade Maravilhosa se garante com o privilégio da Natureza e a Terra da Garoa se enriquece atrás de arranha-céus.

E a população? Ah! Essa vai levando, ao invés de ir vivendo! Essa vai aprendendo a perder, porque é o que se tem.

Onde estamos todos nós?

Lígia Fleury

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