quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

MANDELA NELES!

A ideia inicial era dedicar esse espaço ao legado de Mandela, uma entidade pública que compreendeu, melhor do que nenhuma outra, a potencialidade do esporte como instrumento de construção de conciliação e fraternidade de um povo. 

      Ele não só entendeu como se dedicou a esse intento e teve sucesso em um país à beira do abismo de uma guerra civil racial. Mas muito já se homenageou aquela tempestade sorridente de homem – como os senadores aqui ao lado. E toda menção, seja aqui ou além do Atlântico, tem razão e mérito.

Mas grita mais alto o país do futebol, a pátria de chuteiras, a sede da Copa. Nos últimos dias, duas passagens se destacaram nesse meio-de-campo. Como pode uma imagem de herói nacional virar pó (não é trocadilho)? É a sanha por grana que transformou Ronaldo? O apetite que tinha por gol parece ter se deslocado para novos contratos. 

Desde que foi coroado “embaixador do mundial” ou algo que o valha ele não dá uma dentro. Atestado disso é a entrevista que deu ao repórter Thiago Nogueira, na semana passada, no britanizado “Final Draw” baiano. Ronaldo tornou-se um sujeito reativo, daqueles que respondem já justificando qualquer suposição ou receio, mesmo quando a pergunta é neutra.

Foi assim, da mesma forma babaca que o ex-craque explicou em coletiva que estrangeiros não entendem o “jeitinho brasileiro”, nossa forma peculiar de cumprir compromissos públicos. Em outro idioma, ele passou o atestado de incompetência para o mundo ao tratar dos atrasos nos cronogramas dos estádios.

A NOIVA ATRASADA…

Paralelamente, Aldo Rebelo, a autoridade pública presente, solta a infeliz metáfora da noiva que atrasa, mas não compromete o casamento. Depois, Blatter, o cartola-mor, reza a Deus e a Alá para que não ocorra outro acidente como o que vitimou dois operários e parte da cobertura do Itaquerão. 

Aliás, tal como essas falas recheadas de ciência e seriedade, o futuro estádio do Corinthians é o símbolo do trato correto da coisa pública na organização da Copa: fiaram-se em um lote vago como cenário da abertura.

E, para fechar o fim de semana, o episódio dantesco na arquibancada de Joinville – cidade catarinense escolhida pelo Atlético Paranaense mandar um jogo contra o carioca Vasco. As desventuras em série começam por esse arranjo geográfico esquisito. As cenas horrorosas correm o mundo, apesar da indisposição das maiores emissoras de TV. É mais um atestado de incompetência do país da Copa.

Torcedor-mafioso briga mesmo, quebra o pau, é essa a razão de eles existirem. Mas bandido medieval se trata com a coerção da lei, do estado de direito, certo? Como atleticanos e vascaínos brigaram por tanto tempo sem um policial entre as hordas? Agora, ficam o Ministério Público e a Polícia Militar de Santa Catarina apontando o dedo um para o outro.

Da arquibancada ao presidente da República, todos devem ter uma lição como Mandela. Esporte não deveria combinar com crimes, tragédias e malversações. 

João Gualberto Jr. (transcrito de O Tempo)

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